A relação entre a liberdade econômica e a liberdade política
Toma-se
como certo que a política e a economia são departamentos estanques; que a
liberdade individual é uma questão política, e que o bem-estar material uma
questão econômica; e que qualquer forma de organização política pode ser
combinada com qualquer tipo de ordem econômica. A principal dessas crenças é a
defesa do “socialismo democrático” pelos que condenam as restrições à liberdade
individual do “socialismo real”, mas que acreditam que o planejamento central
da economia é compatível com a liberdade individual.
Esse ponto de vista é ilusório.
Existe uma estreita relação entre a economia e a política. Somente algumas
combinações de sistemas políticos e ordens econômicas são possíveis, e uma
sociedade socialista não pode ser democrática e garantir a liberdade
individual.
Em uma sociedade livre, a ordem
econômica desempenha dois papéis: a liberdade econômica é parte da liberdade
como um todo, constituindo um fim em si mesma; e a liberdade econômica é um
meio indispensável à liberdade política, por seus efeitos sobre a concentração
ou a dispersão do poder. O capitalismo competitivo é o tipo de ordem que, ao
separar o poder econômico do poder político, permite o controle de um sobre o
outro.
O problema econômico central é o
de coordenar as ações de um imenso número de indivíduos, decorrente da divisão
do trabalho e da especialização. O desafio de uma ordem liberal é conciliar
essa interdependência econômica dos indivíduos com a liberdade individual.
Só há duas formas de coordenar
as atividades econômicas. Uma é o planejamento central, secundado pela coerção:
é a técnica do Exército e do Estado totalitário moderno. A outra é a cooperação
voluntária dos indivíduos: a economia de mercado.
Sempre que uma transação
econômica é voluntária e as partes envolvidas estão informadas sobre o objeto
da transação, ela resultará sempre em benefício mútuo para as partes, ou não
ocorrerá. Pela troca, portanto, torna-se possível a coordenação sem coerção. A
economia de mercado baseada na empresa privada, o capitalismo competitivo, está baseada na troca voluntária. Numa
ordem social desse tipo, o consumidor é protegido da coerção de um vendedor
pela competição entre os demais vendedores no mercado. O empregado é protegido
da coerção do empregador pela competição dos outros empregadores, e assim por
diante. E o mercado faz isso, de forma impessoal e automática, sem nenhum
planejamento centralizado.
A existência de um mercado livre
não elimina a necessidade do Estado. Ele é essencial para determinar as “regras
do jogo” e para interpretar e fazer valer as regras estabelecidas. Dadas as
regras do jogo, o papel do mercado é reduzir o número de questões que devem ser
decididas pelo processo político e minimizar a participação do Estado no jogo.
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