TRINTA GATOS E UM CÃO ENVENENADO
Resenha: Humberto Firmo
De tema profundamente psicológico, o que remete às peças teatrais de Nelson Rodrigues no tocante aos contrastes das personagens, a peça tem uma forte carga dramática levando o espectador, passo a passo, a um desfecho trágico.
A
trama familiar regida pelo fio da suposta loucura da filha,
desenvolve-se em cenas de tensão e sombras, a simbologia mítica e
onírica desenvolve-se através dos diálogos carregados de mágoas,
assombrações, mentiras, memórias e discórdias. O perfil
psicológico-mítico das personagens está presente na análise de Freud e o
lado assombroso, do pesadelo, remetem às teorias de Jung e sua
psicanálise dos sonhos.
Processos
de amor dilacerados e vínculos de existência forçados pela farsa,
transformam uma família num quase hospício de convivência, onde o limite
entre a loucura e a razão espreita o abismo. Um suicídio involuntário.
Cego. O conflito entre o consciente e o inconsciente é latente.
Pensamentos são forças malignas (a sombra) causando embaraço e rejeição;
destruindo todo e qualquer sentido de entendimento na família.
A
metáfora “um cão envenenado” relaciona-se com o pai; sustenta toda a
trama de ódio, ressentimentos e vinganças. Esse é o ponto central do
enredo que mistura os acontecimentos terríveis do passado, a mazelas pregadas pelo destino no presente e as cartas marcadas do futuro.
E
os gatos? São trinta. Gatas. Como trinta sonhos não sonhados, como
trinta sonhos soltos, dispersos pela casa, roçando as pernas da filha,
afagando a sua alma dilacerada. Trinta gatas aguardando a hora de parir
suas filhas: a escuridão
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