Humberto Firmo - Calango do Cerrado

23 de jul. de 2012

Teatro II

TRINTA GATOS E UM CÃO ENVENENADO


Resenha: Humberto Firmo

De tema profundamente psicológico, o que remete às peças teatrais de Nelson Rodrigues no tocante aos  contrastes das personagens, a peça tem uma forte carga dramática levando o espectador, passo a passo, a um desfecho trágico.
 A trama familiar regida pelo fio da suposta loucura da filha, desenvolve-se em cenas de tensão e sombras, a simbologia mítica e onírica desenvolve-se através dos diálogos carregados de mágoas, assombrações, mentiras, memórias e discórdias. O perfil psicológico-mítico das personagens está presente na análise de Freud e o lado assombroso, do pesadelo, remetem às teorias de Jung e sua psicanálise dos sonhos.
 Processos de amor dilacerados e vínculos de existência forçados pela farsa, transformam uma família num quase hospício de convivência, onde o limite entre a loucura e a razão espreita o abismo. Um suicídio involuntário. Cego. O conflito entre o consciente e o inconsciente é latente. Pensamentos são forças malignas (a sombra) causando embaraço e rejeição; destruindo todo e qualquer sentido de entendimento na família.   
 A metáfora “um cão envenenado” relaciona-se com o pai; sustenta toda a trama de ódio, ressentimentos e vinganças. Esse é o ponto central do enredo que mistura os acontecimentos terríveis do passado,  a mazelas pregadas pelo destino no presente e as cartas marcadas do futuro.
 E os gatos? São trinta. Gatas. Como trinta sonhos não sonhados, como trinta sonhos soltos, dispersos pela casa, roçando as pernas da filha, afagando a sua alma dilacerada. Trinta gatas aguardando a hora de parir suas filhas: a escuridão

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