Humberto Firmo - Calango do Cerrado

23 de jul. de 2012

Teatro

As velhas

resenha: Humberto Firmo

A peça , como num cordel de diálogos, é a representação fiel ao mundo nordestino com suas características peculiares: sofrimento, seca, retirantes, fala expressiva e ritmada tal qual a vida das personagens.
 Ao fundo é como se ouvisse cantorias de viola e histórias contadas por vendedores de folhetos. Uma trilha sonora carregada nas falas cadenciadas.
 A cultura popular evidencia-se no ambiente peculiar nordestino. O sotaque peculiar ao tipo de vida vivida por seus personagens numa região repleta de necessidades e vicissitudes que o destino provê aos seus habitantes fracos corporalmente, devido a mazelas da vida que levam, mas fortes em coragem e determinação pulsante e histórica. ( “Antes de tudo um forte” no dizer de Euclides da cunha em “Os Sertões”).
 Na fala de Mariana : “... Cada pessoa é um poço – e o que elas é fica escondido no porão...” (Cena 5) denota a capacidade racional pragmática do conhecimento psicológico e estrutural de um (mundo) modo de vida nordestino. Ambiente onde as pessoas, por viveram em meio tão desértico de tudo, tendem a conhecer-se a si mesmo e aos outros de um modo simples; porém repleto de conteúdo prático e, ao mesmo tempo, totalizante.
 O drama vivido pelas duas mulheres é o sentido da rivalidade entre o amor e o ódio; entre bem e mal, vida e morte. Num sertão onde preservar a própria vida é a única solução. Como num desafio de viola, Numa tentativa de sobreviver as intempéries e aos sacrifícios adjacentes da terra.
 Como em antigas cantigas de mal dizer e de escárnio, tradição dos tempos medievais, o texto teatral,  num trovadorismo seco, numa paisagem árida, corta a linguagem dos seus falantes também secos e áridos. A voz dos que bradam por respeito, dignidade e por um pouco de paz interior e prosperidade nessa terra do Deus-dará.

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